Após mais de 80 anos originais do filme de José Julianelli voltam para Nova Trento
Há pouco mais de 80 anos, um mascate, imigrante italiano, dono de circo, fabricante de remédios caseiros, da cidade de São Constantino di Rivoli – Itália, passou por Nova Trento e registrou, em filme, o cotidiano do povo neotrentino. Esquecido no tempo, a película permaneceu por muitos anos na casa da viúva de Julianelli. Na década de 1970, foi encontrada pelo colecionador Marcondes Marchetti e, agora, após tantos anos, retornou a Nova Trento. Marchetti participou de um encontro com o vice-prefeito, Pedro Piva Neto, o Secretário de Cultura e Turismo, Eluísio Antonio Voltolini, o Diretor de Cultura e Intercâmbio, Rino Montibeller, a Assessora de Imprensa, Elis Facchini e o cineasta neotrentino, José Poli.
Além de Marchetti, o encontro teve a presença do diretor do Cine Clube Nossa Senhora do Desterro, Gilberto Gerlach, que também é fascinado pela história e pelos materiais cinematográficos que precisam de restauro, como o filme de José Julianelli. “Há mais ou menos um ano, verificamos esta lata – intitulada “Colônia Italiana”, que é aqui de Nova Trento. O filme de 35mm em nitrato, feito na década de 1920, entre 1923 e 1927, não temos certeza, precisa de restauro urgente, se não corre o risco de ser perdido para sempre”, informou o colecionador, Marcondes Marchetti.
Durante o encontro, o neotrentino José Poli revelou que conheceu José Julianelli em suas andanças pelo Vale do Rio Tijucas e sua paixão pelo cinema. Gilberto Gerlach ficou surpreso com a informação e, mais ainda, quando ouviu José Poli contar que trabalhou com um dos pioneiros do cinema brasileiro, Humberto Mauro. Visivelmente emocionado, Gerlach disse que Nova Trento tem um tesouro vivo da história do cinema. Além disso, propôs que o município busque alternativas para restaurar o filme de Julianelli, bem como a película de José Poli. O filme Gracia Ricevuta ele conheceu durante o Festival Audiovisual Mercosul, quando a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Nova Trento apresentou o filme que pode ser o primeiro com enredo de Santa Catarina.
O Diretor de Cultura e Intercâmbio, Rino Montibeller informou que a Província Autônoma de Trento, Itália, possui um setor de restauração cinematográfica, e que projetos podem ser apresentados. “Já informei a Província sobre a existência desse filme. Inclusive há a possibilidade de uma produtora vir a Nova Trento fazer um documentário, e estes filmes serão de grande importância para este registro histórico”, destacou Montibeller.
O Secretário de Cultura e Turismo de Nova Trento, Eluísio Antonio Voltolini disse que passará todas as informações ao Prefeito Municipal, que não pode estar presente no encontro. “Faremos o possível para que este filme seja restaurado e que nossa história seja preservada. Diante dessas informações valiosas, percebemos o interesse de outras pessoas em incrementar o resgate de nossa cultura. Ficamos muito felizes com isso, pois vamos dar continuidade ao trabalho já desenvolvido pela nossa Secretaria”, assinalou Voltolini, que pretende realizar um encontro com os atores e atrizes do filme Gracia Ricevuta.
Os documentários de Julianelli
O filme de Nova Trento é um dos 12 documentários (jornais cinematográficos) que Julianelli fez na década de 1920 no Vale do Itajaí e Vale do Rio Tijucas. Marcondes Marchetti, que comprou o acervo de cinema mudo de Julianelli um pouco depois do falecimento do imigrante italiano, em 1971, conseguiu recuperar os outros 11 jornais através de um acordo com a Cinemateca do Paraná, na época em que ela era dirigida pelo falecido escritor, cineasta e roteirista, Valêncio Xavier. O 12º documentário, sobre Nova Trento, só foi localizado por Marchetti há um ano.
Sobre José Julianelli
José Julianelli nasceu em São Constantino di Rivoli, na Itália, em 19 de março de 1883. No começo do século chegou ao Rio de Janeiro como vendedor ambulante acompanhado do pai, que retornou pouco tempo depois para o país de origem. Julianelli aprendeu cedo a se virar sozinho e fez de tudo um pouco em sua vida. Iniciou seus empreendimentos comprando um tigre, o qual ficava em exposição para visitação do público que pagava para ver o animal. O negócio cresceu e Julianelli montou um circo, denominado Pavilhão Recreativo.
Era 1909, e para ampliar seu negócio, o imigrante italiano mandou vir de Paris um cinematógrafo que passou a funcionar como mais uma atração do Pavilhão. Um dos filmes exibidos com frequência por Julianelli foi “A Paixão de Cristo”. A fita despertava grande interesse e seu enredo facilitava a compreensão do público através de uma linguagem que estava dando seus primeiros resultados. Tratava-se da projeção de quadros que descreviam os diferentes momentos da vida de Cristo, dividida em sete partes.
No final dos anos 10, Julianelli deixou o cinema em segundo plano, mas retomou a atividade com uma câmara 35 milímetros, com a qual passou a documentar eventos sociais, e principalmente, políticos da região do Vale do Itajaí e de Joinville. Grande parte da filmografia de Julianelli também foi perdida ou deteriorada ao longo dos anos. O mascate italiano, naturalizado brasileiro, faleceu em Blumenau aos 88 anos, no dia 18 de maio de 1971.
(Jornalista Jeferson Lima, Jornal A Notícia, maio 1999)
Texto e fotos: Elis Facchini – Assessoria de Imprensa – Prefeitura Municipal de Nova Trento